segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

OS PRINCIPAIS TIPOS DE CRISES

As crises podem ser divididas em duas categorias gerais. As crises de desenvolvimento são aquelas que ocorrem em tempos previstos à medida que viajamos pela vida afora. Enfrentar o primeiro dia de escola, lidar com a adolescência, ajustar-se ao casamento, fazer face às inseguranças da meia-idade, adaptar-se à aposentadoria — todas estas são situações de crise que exigem esforços adicionais da parte do indivíduo ou da sua família. Estas crises podem ser muito severas, mas usualmente podem ser preditas de antemão, e são resolvidas à medida que o indi­víduo aprende a ajustar-se a uma nova etapa na vida.

Crises acidentais, conforme o nome dá a entender, são muito menos previsíveis e, como resultado, golpeiam com mais força. Uma perda repentina de posição ou posses, a morte no trânsito de um ente querido, o rompimento inesperado de um noivado, a perda súbita do emprego — qualquer um destes eventos pode submeter o indivíduo a exigências extremas e criar confusão à medida que pondera o que deve fazer em seguida.


REAGINDO ÀS CRISES

Usualmente a pessoa em crise volta-se em primeiro lugar para seus modos habituais de lidar com problemas. Dentro em breve, porém, descobre que seus antigos métodos de enfrentá-los não funcionam mais. Ainda permanece a tensão inicial, mas, além disto, a pessoa tem um senso de frustração e confu­são por causa da sua incapacidade de ficar à altura. Neste ponto, todos os recursos interiores da pessoa são mobilizados. A pessoa experimenta vários métodos de ensaio e erro para lidar com o problema, esgota as suas reservas de força física, quebra a cabeça para pensar em modos novos de tratar da situação, e aprende a aceitar circunstâncias que não podem ser alteradas, ou a tirar o melhor proveito delas. Se tudo isto fracassar, e o problema continuar, a pessoa acaba entrando em colapso físico ou mental, ou os dois.2 Muitas vezes é o que acontece naquilo que se chama de esgotamento ou colapso nervoso. Não sobram mais recursos ou resistência para lidar com a tensão. A pessoa desespera-se, exaure, e se retira para um mundo irreal, ou persiste irracionalmente nalgum comporta­mento que talvez negue o problema mas nada faz para solu­cioná-lo.


A SINGULARIDADE DE CADA CRISE

Cada situação de crise é única, sem igual. As circunstân­cias, as personalidades, e a caracterização psicológica das pes­soas envolvidas; a experiência (ou falta dela) da pessoa em lidar com crises no passado; a disponibilidade doutras pessoas que podem ajudar — todos estes aspectos influenciam aquilo que acontece em determinada situação de crise. É difícil predizer o que um indivíduo, inclusive nós mesmos, pode fazer numa crise. Algumas pessoas entram em colapso quase imediatamen­te, ao passo que outras descobrem que têm tremendas reservas interiores que as capacitam a lidar até mesmo com períodos prolongados de crise intensa.

Algumas características, no entanto, parecem ser muito comuns.3 Há, por exemplo, a ansiedade, que às vezes leva a pessoa a tomar a decisão errada, o que passa a somar-se com os demais problemas. Freqüentemente há o senso de incapacida­de. A pessoa não sabe o que fazer e muitas vezes se sente envergonhada porque não consegue confiar mais em si mes­ma. Uma dependência dos outros é freqüentemente inevitável, mas ela também pode gerar seus próprios problemas. Às vezes a pessoa se sente culpada por ser tão dependente, frustrada com sua incapacidade de fazer decisões, e zangada porque outras pessoas estão dirigindo a sua vida. Tudo isto contribui para uma perda de estima-própria porque a pessoa se sente vulne­rável e sem controle da situação. A ira por causa da situação inteira é uma emoção comum que às vezes é oculta mas às vezes se dirige contra outras pessoas — inclusive aquelas que estão procurando ajudar. Na sua frustração, a pessoa em crise não sabe com quem irar-se, e, portanto, ataca aqueles que são mais próximos e com mais probabilidade de ficar com ela a despeito da ira. Às vezes há ira contra Deus, seguida por sentimentos de culpa. Há também, freqüentemente, uma diminuição da efi­ciência em nosso comportamento diário. Remoer o problema, preocupar-se acerca de que vai acontecer em seguida, questio­nar por que mesmo houve tal acontecimento — todas estas coisas tomam tempo, energia, e atenção, que normalmente seriam dirigidos a outras atividades.


LIDANDO COM UMA CRISE

Em muitos aspectos, uma crise é mais do que um aumento da tensão ou uma perturbação em nosso padrão diário da vida. Uma crise representa um ponto crucial que afeta nosso ajus­tamento futuro e saúde mental. Se sabemos lidar com a crise, adaptar-nos a nossas novas circunstâncias, ou achar meios eficientes para solucionar o problema da crise, então já desen­volvemos maior auto-confiança e experiência, que nos ajudará a lidar de modo mais eficaz com crises futuras. Se, do outro lado, a pessoa é incapaz de ficar à altura, há sentimentos de fracasso ou incompetência que transbordam para a crise se­guinte e que tornam ainda mais difícil a adaptação no futuro.

Segundo certo psiquiatra,4 é comum nas crises acontecer que a pessoa não somente mobiliza seus próprios recursos interiores mas também procura ajuda das pessoas próximas a ela. Outros vêem estes sinais de tensão cada vez maior e são estimulados a virem socorrer a pessoa aflita. Os conselheiros profissionais podem ajudar a esta altura, mas os ajudadores melhores são aqueles que a pessoa em crise já conhece, respeita e ama. Quanto mais próximos estamos da pessoa em crise — quanto mais temos consciência da situação — tanto mais pro­vável é que seremos procurados, e tanto mais facilmente pode­mos intervir por início próprio. Está claro, portanto, que a família e a igreja são de importância crucial no aconselha­mento nas crises. O modo de o indivíduo relacionar-se com aqueles que lhe estão mais próximos determinará em grau considerável quanto sucesso terá em achar uma solução que, por sua vez, promoverá ou estorvará sua saúde mental futura.

Como, pois, podemos ajudar uma pessoa em tempo de crise? Para começar, podemos examinar a Tabela 2, que de­monstra alguns modos doentios e sãos de lidar com uma crise. Quando aparecem a doença, a morte na família, perdas finan­ceiras, contendas entre os cônjuges e outras crises, o alvo do conselheiro é ajudar a pessoa a evitar o comportamento, senti­mentos ou pensamentos errados, e a focalizar-se, ao invés disto, naquilo que é saudável e construtivo.

Para fazer assim, o conselheiro de crises deve estar geo­graficamente próximo da pessoa em crise (é difícil ajudar uma pessoa na outra ponta do país), imediatamente disponível (ainda que isto signifique levantar-se à meia-noite), móvel (de modo que possamos chegar à pessoa necessitada, especialmente quando não pode vir a nós), e flexível quanto aos métodos de aconselhamento.5 Os conselheiros que têm horários rígidos de consulta amiúde deixam de preencher estes critérios e, por­tanto, são menos eficazes em situações de crise do que os membros da família, os amigos, os vizinhos, os membros da igreja e os ministros. Estes últimos podem ajudar especial­mente em tempos de crise porque simbolizam a esperança e a estabilidade teológica para uma pessoa que está envolvida em desânimo e grande incerteza.



TABELA 2*

Modos Sãos e Doentios de Enfrentar uma Crise




   

Modos Doentios de Enfrentar uma Crise
   

Modos Sãos de Enfrentar uma Crise

1
   

Negar que o problema existe.
   

Enfrentar o fato de há um problema.

2
   

Desviar-se do problema (com o álcool, por exemplo)
   

Procurar entender mais completamente a situação.

3
   

Não procurar ajuda, ou recusa da situação da crise.
   

Abrir canais de comunicação com amigos, parentes, pastores, ou outros que talvez possam ajudá-lo.

4
   

Ocultar o fato de ter sentimentos de tristeza, ira, culpa, etc
   

Enfrentar seus sentimentos negativos de culpa, ansiedade, ou ressentimento, e considerar ações e modos alternativos de ver a situação, de modo que possa lidar com estes sentimentos.

5
   

Não pensar profundamente sobre os problemas.
   

Distinguir o que pode ser mudado daquilo que não pode ser mudado na situação, e aceitar aquilo que não pode ser mudado.

6
   

Não pensar em modos práticos para lidar com a crise.
   

Explorar modos práticos de lidar com o problema, e tomar providências (por mínimas que sejam) para haver-se como o problema de modo prático.

7
   

Culpar os outros por serem causadores da crise e esperar que outra pessoa assuma a responsabilidade total pela sua cura.
   

Aceitar a responsabilidade para lidar com os problemas, até mesmo aqueles que, segundo parece, surgiram de situações além do seu controle.

8
   

Esquivar-se dos amigos ou parentes.
   

Aproximar-se dos amigos e parentes, especialmente daqueles que sabem ajudar.

9
   

Recusar-se a orar a respeito da crise.
   

Orar acerca do assunto, e honestamente compartilhar com Deus suas preocupações.

10
   

Convencer-se que uma crise é evidência de castigo ou desagrado de Deus.
   

Não se esquecer da soberania de Deus que ama a humanidade e conhece nossas crises e tem cuidado de nós.



A INTERVENÇÃO NAS CRISES

Não pode haver fórmula padronizada ou abordagem tipo livro de receitas para ajudar uma pessoa em crise. Há, porém, algumas coisas que podem ser feitas em quase todos os casos.



Fazer Contato

É difícil ser muito eficaz no aconselhamento de crise se o ajudador está a 1000 Kms (ou até mesmo meio quarteirão) de distância do auxiliado. Como cristãos, cremos que podemos intervir de longe através da oração, e não devemos olvidar-nos disto, mas sempre quando possível, devemos demonstra@ < @de pessoal com nossa presença, nosso calor, e nossa disposi­ção para escutar. Quanto mais cedo podemos chegar ali, tanto mais possibilidade há de podermos ajudar.



Reduzir a Ansiedade

De modo contrário às crenças populares, não se faz assim ao encorajar o auxiliado a pensar noutras coisas. Escolhendo um exemplo extremo: se, na casa funerária, descobrimos que estamos falando com um cônjuge sobrevivente acerca do beise­bol ou da bolsa de valores, é possível que estejamos evitando a realidade da morte a fim de reduzir nossa própria ansiedade. Mas isto não funciona muito bem com as pessoas que estão em crise. Freqüentemente, querem falar acerca da situação, des­crever o que aconteceu, relembrar tempos mais felizes antes da crise, e sentir-se livres para expressar suas emoções de tristeza, profunda aflição, remorso, ou ira.

Nestas ocasiões, o ajudador pode demonstrar calma, solici­tude, e aceitação. Pode trazer o consolo das Escrituras, e orar com o auxiliado, tendo a certeza, no entanto, que não se trata, de truques para não deixar ninguém falar acerca da ferida e expressar sentimentos.

Se o ajudador não sabe muita coisa acerca da situação, desejará descobrir, se possível, quando começou a crise e o que aconteceu antes do seu começo. Fazendo assim, podemos às vezes localizar a origem da dificuldade e começar a lidar com ela. Se uma pessoa diz, por exemplo: "tudo estava correndo bem para mim até que comecei a freqüentar a faculdade," podemos tomar por certo que há alguma coisa no ambiente universitário que causa os sintomas de crise.

Às vezes, a redução da ansiedade envolverá agüentar o peso da ira do auxiliado, ajudá-lo a ver seu problema, recomendá-lo a tomar medidas para enfrentar a crise, e ajudá-lo a ver que nem tudo é desesperançoso. Tudo isto, é claro, pode sair pela culatra se for feito indevidamente. Romanos 8:28, por exem­plo, pode ser citado de modo tão fácil que irrita o auxiliado, especialmente se sente que o citador do versículo não tomou o tempo necessário para realmente entender a situação.

Quando várias pessoas estão envolvidas numa crise, é de ajuda se você puder lidar primeiramente com a pessoa ansiosa, e mandar embora os espectadores curiosos. Há vários anos, nossa família viu um menino que foi atropelado por um carro. Enquanto minha esposa, que é uma enfermeira, aplicava os primeiros socorros e falava calmamente com a mãe aflita, um irmão mais velho apareceu em cena. De modo agitado, gritou: "Mãe, o Tiago vai morrer?" Imediatamente, a cena ficou tensa, até que minha esposa assegurou o irmão mais velho que Tiago provavelmente ficaria perfeitamente bem, e sugeriu que a mãe decerto desejaria um abrigo ou blusa para colocar nos ombros enquanto ia de ambulância. O irmão mais velho foi correndo procurar um suéter e a situação acalmou-se conside­ravelmente.



Focalizar as Questões Difíceis

No meio da crise é fácil ver uma quantidade enorme de questões difíceis, cada uma das quais parece ser esmagadora. O ajudador pode fazer várias coisas a estas alturas. Em primeiro lugar, pode ajudar a pessoa em crise a examinar a situação presente mediante uma descrição dos seus sentimentos, pensa­mentos e planos (se os tiver), seu modo de ver os eventos que ocorreram, e seus esforços para solucionar o problema. Este é um processo de triagem dos problemas, um a um, para desco­brir o que há de ameaçador neles, e ver o que foi feito ou pode ser feito tendo em vista uma solução.

A certa altura, é necessário reduzir o número de problemas até definir quais são reais, e fazer um inventário dos recursos da pessoa (quanto dinheiro, capacidade, pessoas e oportunidades estão disponíveis), uma lista das diferentes alternativas que a pessoa tem diante dela, e uma avaliação de cada uma destas. Se o auxiliado não levantou todas as alternativas, então você mesmo deve levantar algumas. Para cada alternativa, procure decidir com o auxiliado qual delas é viável, qual delas real­mente será de ajuda no problema, e qual é a mais fácil para levar a efeito.

Pouco antes de escrever este capítulo, visitei a área de uma cidade que fora atingida por um furacão, onde foram danifica­das várias residências. Uma das casas fora completamente des­truída, excetuando-se uma só parede, que ainda estava em pé. Sobre o papel da parede, em maiúsculas pretas, alguém escreve­ra: "A família Richardson voltará a construir!" Logo após a crise foi decidida a sua alternativa!

Lembre-se que as pessoas em crise freqüentemente são muito sugestionáveis, e, portanto, não devemos forçar nossas próprias soluções. Além disto, devemos ajudar as pessoas a serem realistas e práticas. A última coisa da qual precisa uma pessoa em crise é acrescentar o fracasso a seus demais problemas. Realmente, é o temor de mais fracasso que paralisa muitas pessoas em tempos de crise, e precisam de ajuda e encoraja­mento quanto à ação que devem adotar.

Ao ajudar numa crise, o ajudador pode fazer muita coisa para mobilizar a ajuda da igreja e da comunidade. O apoio maciço em oração pode não somente sustentar uma pessoa no meio de uma crise, mas também é uma demonstração anima­dora de que as pessoas realmente se importam. A isto pode ser acrescentada a ajuda mais tangível acerca da qual escreve Tia­go: "Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa, e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: 'Ide em paz, aquecei-vos, e fartai-vos, sem, contudo, lhes dardes o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?" (Tiago 2:14, 16). A fé em Jesus Cristo, e a dedicação a Ele, devem às vezes manifestar-se mediante a ajuda às pessoas de modo tangível, com dinheiro, provisões, serviços de pagear crianças ou ajudar na casa ou outra assistência prática.



Encorajar a Ação

Às vezes, com ou sem ajuda, uma pessoa resolverá seguir certo curso de ação, mas terá medo de levar o plano adiante. É aqui que o ajudador pode encorajar o auxiliado a adquirir habilidades, se forem necessárias, e ficar firme ao lado dele à medida que empreende a ação. Devemos tomar o cuidado de não estar fazendo as coisas para o auxiliado o tempo todo. É fácil para todos nós sentar-nos confortavelmente para "deixar outra pessoa fazer tudo", e depois reclamar da qualidade do serviço. A pessoa em crise precisa ser ajudada para ajudar-se a si mesma. Precisa avaliar suas ações com a ajuda do conselheiro e, se necessário, contribuir com alternativas diferentes ou melhores quando um plano anterior não foi bem-sucedido.

Tudo isto toma por certo, naturalmente, que o ajudador e o auxiliado são as únicas pessoas envolvidas em enfrentar a situação de crise. Devemos lembrar-nos, no entanto, que a maioria das crises começa com uma série de eventos ou circunstâncias advindos do meio ambiente. Muito freqüentemen­te, o meio eficaz de atuar numa crise é mudar o ambiente. Ajudar o auxiliado a achar outro emprego, mobilizar a comu­nidade para ajudar na reconstrução de uma casa ou suprir dinheiro para as despesas médicas, dar aconselhamento aos parentes ou amigos que talvez tenham causado boa parte da tensão logo de início — todas estas são maneiras de reduzirmos o impacto da crise ao fazermos uma intervenção no meio ambiente.



Ajudar com a Aceitação

Paul Tournier sugere num de seus livros que a aceitação é o primeiro passo em direção à solução de um problema sério. As vezes, a crise trará consigo uma mudança permanente. A morte de um ente querido, a destruição das propriedades, ou a descoberta de uma doença fatal, por exemplo, são eventos que devem ser aceitos e enfrentados. Fazer doutra forma é negar o problema e adiar a sua solução até mais tarde.

A aceitação, como a cura, leva tempo, Muitas vezes, envol­ve o pensar doloroso e consciente acerca da situação, uma expressão de sentimentos, um reajustamento do estilo de vida, uma edificação de novos relacionamentos, e um planejamento para o futuro. A aceitação pode envolver riscos e o fracasso potencial. Tem mais sucesso quando estamos cercados por amigos sinceros, pacientes e úteis, e quando conhecemos de modo pessoal o Salvador que nos convidou a vir a Ele com nosso fardos, para lançá-los sobre Ele e experimentar a paz e a orientação que nos dão esperança e estabilidade verdadeiras durante tempos de crise (Mt 11:28, 29; SI 55:22; 32:8). Devemos lembrar-nos, no entanto, que quando uma pessoa lança seu fardo sobre o Senhor, o Senhor pode sustentá-la por meio de outros seres humanos — tais como o escritor ou os leitores deste livro.


JESUS COMO CONSELHEIRO NAS CRISES

Um exemplo familiar de aconselhamento numa crise é registrado em João 11. Envolve uma doença fatal, perigo pes­soal, e a perda de um ente querido.

Quando Lázaro de Betânia ficou gravemente enfermo, suas irmãs mandaram um recado a Jesus: "Senhor, está enfermo aquele a quem amas."

Conforme a narrativa bíblica, Jesus amava Lázaro, Ma­ria e Marta. É possível que o lar deles, perto de Jerusalém, fosse o melhor lugar para Jesus relaxar. Mesmo assim, ao invés de correr para socorrê-los na sua necessidade, demorou-Se por dois dias. Jesus, é claro, sabia o que estava acontecendo em Betânia, e até mesmo fez uso da crise para ensinar Seus discí­pulos (vv. 4, 9-15) antes de reconhecerem que a doença de Lázaro era fatal.

Os discípulos, no entanto, também estavam enfrentando uma crise sua. A vida de Jesus corria perigo, e a deles também, por associar-se com Ele, pois era procurado pelas autoridades (vv. 8, 16). Aparecer em público seria arriscar-se a morte violen­ta, mas quando Jesus lhes disse que Lázaro morrera, concordaram em acompanhar o Senhor até Betânia.

Quando chegaram, a cena era de grande tristeza. Certo número de amigos viera consolar as irmãs na sua perda, mas quando Marta ficou sabendo que Jesus estava chegando, saiu da casa e foi encontrá-Lo pela estrada. Notemos como Jesus lidou com a situação:

- Explicou aos discípulos confusos o que estava aconte­cendo (vv. 4, 14, 15).

- Deixou Marta expressar seus sentimentos e confusão (vv. 21, 22).

- De modo calmo, deu-lhe nova certeza, e implantou a esperança (vv. 23, 25, 26).

- Indicou para ela a Pessoa de Cristo (v. 25).

- Deixou Maria expressar seus sentimentos, sentimentos estes que talvez tenham incluído alguma ira (v. 32).

- Não impediu que as pessoas chorassem, mas, pelo contrário, expressou Sua própria tristeza (vv. 33-36).

- Suportou com calma a hostilidade de muitos dos pranteadores entristecidos (v. 37), muito embora O deixasse muito perturbado (vv. 37, 38).



Depois, Jesus entrou em ação — ação esta que transfor­mou a tristeza em alegria, trouxe glória a Deus, e levou muitas pessoas a crerem em Cristo (vv. 38-45). Nesta ocasião, Jesus não mandou embora os observadores, como fizera quando ressusci­tou a filha de Jairo; pelo contrário, ao chamar Lázaro para sair do túmulo, demonstrou conclusivamente Sua vitória sobre a morte, a maior de todas as crises. Poucos dias mais tarde, quando Ele mesmo foi executado, Jesus abordou a cruz com calma, e depois ressuscitou. Não admira que o apóstolo Paulo podia exclamar aos coríntios que a morte fora tragada pela vitória e que os crentes tinham a certeza da vida após morte, uma vida com o próprio Cristo (1 Co 15:51-58).

É verdade que ninguém entre nós pode ressuscitar um morto, conforme fez Jesus, mas também é verdade que, como ajudadores nas crises, podemos empregar cada uma das demais técnicas que Jesus empregou durante esta crise em Betânia. Mesmo sem a ressurreição de Lázaro, a crise em Betânia teria servido a um propósito útil. Jesus procurou convencer os discí­pulos quanto a isto (João 11:4), mas obviamente não captaram o sentido até mais tarde.


AJUDANDO NAS CRISES HOJE

O mesmo se diz acerca da maioria das crises hoje. São experiências dolorosas e traumáticas, mas também podem ser experiências de crescimento que oferecem uma boa oportuni­dade para a aprendizagem. Lembro-me das palavras de um amigo que observou, certa vez: "Nunca temos problemas por aqui — só temos oportunidades!"

Segundo Dr. Gene W. Brockop, do Serviço de Crises e Pre­venção do Suicídio, em Buffalo, Nova York; as crises podem ser úteis e terapêuticas.6 Freqüentemente lançam uma pessoa em tal estado de tensão que há um rompimento de defesas, uma forte disposição para transformar-se, e uma receptividade inco-mum às sugestões de um conselheiro. Se o auxiliado tem a capacidade de mobilizar seus recursos e solucionar seus proble­mas, aumentam sua confiança e sua auto-estima. Às vezes, as crises ensinam a pessoa a olhar de modo mais objetivo os problemas quando surgem, e solucioná-los de modo mais eficiente. Tudo isto contribui para seu bem-estar mental e estabilidade psicoló­gica. Podemos acrescentar que as crises têm um jeito de alertar as pessoas à questões espirituais e de ensiná-las a apoiar-se mais pesadamente em Cristo, que chamou Lázaro para sair do túmulo. Nem todas as pessoas reagem assim, naturalmente. Algumas começam a criticar a Deus e a ficar irados com Ele, mas outras relembram as crises como ponto crucial no seu desenvolvimento espiritual.

Conforme vimos, no entanto, as pessoas em crise freqüen­temente são confusas, sugestionáveis, culpadas, e se condenam a si mesmas. Muitas vezes ficam tão desesperadas a respeito de uma situação que pensam no suicídio como uma das suas alternativas mais viáveis. Ao lidar com tais pessoas, seria fácil para um ajudador tirar vantagem do complexo de culpa da pessoa e levá-la a fazer algum tipo de decisão espiritual que mais tarde talvez lastime, ressinta e repudie.


AS IMPLICAÇÕES ESPIRITUAIS DE UMA CRISE

Quando Se viu confrontado com a morte de Lázaro e com os perigos à Sua própria vida, Jesus não negou as implicações espirituais daquilo que estava acontecendo. Fez uso da situação para ensinar verdades espirituais, para mostrar como lidar com crises, e para demonstrar o poder de Deus na vida dos Seus filhos. Notemos, porém, que ao indicar o lado espiritual, não tirava vantagem das emoções das pessoas, nem lhes privava da liberdade para duvidar (João 11:16), criticar (v. 37), resistir (v. 46-53), ou voltar-se a Ele e crer (v. 45).

Deus usa as crises para trazer as pessoas para Si. Emprega as crises para ajudar os cristãos a crescer e a ficar maduros como discípulos. Nossa tarefa de ajudadores das pessoas é estarmos abertos à orientação do Espírito Santo, confiando que Ele nos mostrará quando e como devemos introduzir questões espiri­tuais em nossa ajuda nas crises de tal maneira que o auxiliado ficará mais próximo do Senhor, e, em última análise, trará glória a Deus

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